Lula não assinou a carta em repúdio às prisões arbitrárias na Venezuela, não comentou o assassinato do opositor de Putin, mas prometeu apoio moral e financeiro a ditaduras na África e assegurou dinheiro para os que querem destruir Israel.
Desde a retumbante vitória
de Maria Corina Machado nas eleições primárias da oposição na Venezuela, Maduro
recrudesceu ainda mais seu já ditatorial regime com cassação de direitos
políticos dos opositores e prisões arbitrárias. No arroubo autoritário mais
recente, o ditador mandou prender a
ativista de direitos humanos Rocío San Miguel em uma prisão chamada El Helicoide,
considerado o maior centro de tortura do chavismo, e expulsou da Venezuela os
funcionários do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos por terem
criticado a prisão e exigido a libertação da presa política.
Diante do grave ocorrido, os
países latino-americanos Argentina, Equador, Paraguai, Uruguai e Costa Rica
assinaram nota conjunta expressando “profunda preocupação” pela “detenção
arbitrária da ativista de direitos humanos Rocío San Miguel” na Venezuela e
exigindo sua libertação imediata. Da mesma forma rechaçaram as medidas de
contra o Gabinete de Assessoria Técnica do Alto Comissariado das Nações Unidas
para os Direitos Humanos na Venezuela e exigiram “o pleno respeito pelos
direitos humanos, a validade do Estado de direito e a convocação de eleições
transparentes, livres, democráticas e competitivas, sem banimentos de qualquer
tipo.” O Brasil não
assinou o documento.
Na última sexta-feira, 17 de
fevereiro, Alexei Navalny, o principal opositor de Vladimir Putin, que estava
preso em um antigo gulag, perto do Ártico, passou a integrar — ao lado de Boris
Nemtsov, Anna Politkovskaya, Alexander Litvinenko, Evgeni Prigojin e outros — a
lista de opositores mortos desde que Putin chegou ao poder.
Silêncio
O presidente americano Joe Biden declarou que
Putin é responsável pela morte de Navalny e disse estar “indignado mas não surpreso”
com o ocorrido; o presidente francês, Emmanuel Macron escreveu: “na
Rússia de hoje, os espíritos livres são colocados no gulag e condenado à morte.
Raiva e indignação”; o chanceler alemão Olaf Scholz desabafou: “estou
profundamente triste com a morte de Alexei Navalny. Ele defendeu a democracia e
a liberdade na Rússia – e aparentemente pagou pela sua coragem com a vida”;
a presidente da União Europeia, Ursula von der Leyen, decalrou:“Putin
teme a dissidência de seu próprio povo mais do que tudo. O mundo perdeu um
lutador pela liberdade em Alexei Navalny. Honraremos seu nome e, em seu nome,
defenderemos a democracia e nossos valores.”
Inúmeros outros líderes e estadistas
expressaram imediata solidariedade à família de Navalny e indignação pelo
ocorrido. O Brasil não se manifestou.
Nesse domingo, 18, dois dias após o ocorrido,
ao ser questionado sobre o motivo de não ter se manifestado sobre a morte do
principal opositor do autocrata russo Vladimir Putin, Lula
afirmou que a causa da morte é desconhecida e que não lhe cabe
fazer acusações.
Lula não é humanista
Lula não assinou a carta em repúdio às
prisões arbitrárias na Venezuela, não comentou o assassinato do opositor de
Putin, mas prometeu apoio moral e financeiro a ditaduras na África e assegurou
dinheiro para os que querem destruir Israel.
No momento mesmo em que os mais importantes
países ocidentais suspenderam o financiamento da Agência
das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinos (UNRWA),
após terem provas cabais de que as escolas mantidas por essa organização
doutrinavam crianças e jovens para odiarem judeus e praticarem a jihad e que
vários de seus funcionários estavam envolvidos direta e indiretamente com o
terrorismo islâmico, Lula
achou por bem agir de modo contrário.
Em 15 de fevereiro, durante seu discurso na
sessão extraordinária da Liga dos Estados Árabes, no Cairo, Egito, o presidente
Lula informou que o Brasil fará novos aportes de recursos para a UNRWA e
estimulou todos os países a manterem e reforçarem suas contribuições.
No sábado, 17 de fevereiro, durante reunião
da 37ª Cúpula da União Africana, na Etiópia, Lula fez um discurso no qual
tratou da guerra no Oriente Médio e abusou de sofismas, retorcendo os fatos e o
valor das coisas até o ponto de dar a entender que ser
humanista hoje é ser contra Israel.
Lula não deixou de mencionar a importância
dos BRICS, esse estranho conglomerado dos países menos democráticos do mundo,
que ele considera um contraponto adequado ao que chamou de “mazelas
da globalização neoliberal.”
No mesmo discurso, o presidente Lula criticou
a paralisia da ONU em relação ao conflito entre Rússia e Ucrânia que, segundo
ele, não terá solução militar, mas diplomática.
Aqui, é preciso lembrar que
Lula, o pacificista, disse, em abril de 2023, que para acabar com a guerra, a
Ucrânia deveria devolver a Crimeia, território ucraniano anexado pela Rússia.
Além disso, Lula também já culpou a Ucrânia por ter sido invadida, condenou a
ajuda dada pelos Estados Unidos e pela Europa ao país invadido, recusou-se a
encontrar o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky e, por meio de sua
Assessoria Especial, na figura de Celso Amorim,
ofereceu tapete vermelho para a vinda de Putin ao Brasil em 2024, por ocasião do
encontro do G20, que será realizado no Rio de Janeiro.
Por mais que se esmere em se
vender como tal, Lula não é um humanista. Ele é apenas um político no sentido
mais chão e menos nobre que se possa dar a essa palavra. O humanismo enquanto
movimento filosófico é o contrário do que conhecemos como política no sentido
lato porque ele conforma as coisas não à ideologia, mas ao paradigma humano na
sua excelência, guiando-se por princípios norteadores de conduta e não por
pragmatismos e conveniências.
Por Catarina Rochamonte, O Antagonista

