Setembro Amarelo: Acre registra aumento no número de casos de suicídio





Por Edinho Leví, Ingrid Moura, Márcio Levi, Pâmela Valdez, Suene Almeida


Dados da Secretaria Estadual de Saúde (Sesacre) apontam que, entre o período de 2010 a 2020, 574 óbitos por violência autoprovocada foram registrados no Acre. Segundo o Anuário de Segurança Pública, somente em 2022, o estado registrou 79 casos de suicídio, sendo 14 óbitos a mais que no ano anterior.

O suicídio é um fenômeno complexo que afeta pessoas de diferentes origens, classes sociais, idades, orientação sexual e identidade de gênero. Vários motivos podem levar pessoas a ter ideias suicidas, no entanto há sinais que podem ser observados, conforme explica a psicanalista Anaele Marinho.


Psicanalista Anaele Marinho frisa as complexidades sobre o suicídio - Foto: Arquivo pessoal

 

“A primeira coisa que vamos identificar é a perda de interesse por si mesmo. A pessoa vai perdendo o interesse de cuidar da sua própria vida, deixando de se importar em fazer atividades do dia a dia, como tomar banho, a indiferença em relação a como se comportar, como agir para com ela mesma e os demais. A pessoa vai perdendo o interesse de se socializar, prefere ficar mais em casa, além de ser indiferente com os outros. A queda de produtividade nos estudos e no trabalho, por exemplo, também são alguns dos sinais a serem identificados”, ressalta a profissional.

 

De acordo com o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), alguns transtornos mentais apresentam maior relação com o suicídio, como no caso da depressão, do transtorno afetivo bipolar, alcoolismo, de transtornos de personalidade, esquizofrenia e dependência de drogas psicoativas.

Segundo o psicanalista Paulo Leno, raramente a pessoa com ideação suicida busca ajuda. Por isso, o profissional destaca a importância da comunidade estar atenta a essa temática para auxiliar aqueles que precisam de ajuda. 

 Psicanalista Paulo Leno durante entrevista sobre ações de prevenção ao suicídio - Foto: Arquivo pessoal

 

“Cerca de 95% das pessoas que cometem suicídio sofrem de transtornos mentais. Em primeiro lugar está a depressão, que é o excesso desmedido incalculável de um trauma passado insuperável. A quebra de padrão e o isolamento são comportamentos de pessoas que têm ideação suicida. Raramente a pessoa que está passando por essas situações vai procurar ajuda. Por isso é muito importante que terceiros ou amigos próximos ajudem de alguma forma”, pontua Paulo Leno.

No Acre, o Núcleo de Saúde Mental da Sesacre é responsável pelo acolhimento e ações de prevenção ao suicídio. Com frequência são realizadas capacitações de profissionais de saúde da rede pública e ações educativas. Um exemplo é a campanha mundial Setembro Amarelo, que tem como foco central a prevenção ao suicídio. No Brasil, a campanha teve início em 2015 com foco na conscientização das pessoas sobre a temática.

 

Card de divulgação da campanha Setembro Amarelo - Foto: Sesacre

 

Segundo dados da Sesacre, por meio da Rede de Atenção Psicossocial - RAPS, apontam que existem Unidades Básicas de Saúde – UBS nos 22 municípios e Centros de Atenção Psicossocial – CAPS I em Mâncio Lima (Regional Alto Juruá); Brasiléia e Epitaciolândia (Regional Alto Acre; Capixaba e Sena Madureira ( Regional Baixo Acre), além de 05 (cinco) Unidades de Referência da Atenção Primária - URAP’s em RioBranco que funcionam no atendimento dessas pessoas. O SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) também realiza o trabalho de apoio nos municípios onde existe o serviço.

 

Um dos serviços realizados pelos CAPS é o de Atenção Psicossocial Álcool e Outras Drogas, definido pela Portaria GM/MS no 130/2012, esse serviço funciona em regime ambulatorial, atendendo tanto o usuário quanto a família dele. Outros CAPS também têm alguns atendimentos específicos como por exemplo o Caps Samauma, localizado no bairro Morada do Sol, em Rio Branco, essa unidade oferece atendimento de enfermagem, médico, psicológico, acompanhamento social, farmacêutico, terapêutico-ocupacional, oficinas terapêuticas, redução de danos sociais e à saúde, dentre outros, o horário de funcionamento é das 07h30 às 17h00, de segunda a quinta-feira.

 

A psicóloga Ana Flavia Rodrigues do Nascimento, profissional que atua na área há mais de 15 anos, além de possuir experiência em atendimento em Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) fala dos procedimentos e técnicas de atendimento a esse público.

Psicóloga frisou a importância da família no tratamento da doença - Foto: Arquivo pessoal

 

“O primeiro passo é a identificação dos pacientes (clientes) de risco por meio de avaliação clínica periódica, considerando que o risco pode mudar. A avaliação para o risco de suicídio inclui uma entrevista clínica e, frequentemente, a coleta de dados junto a terceiros. Utiliza-se três características psicopatológicas comuns no estado mental dos suicidas: Ambivalência, Impulsividade e Rigidez. Devemos saber identificar e manejar toda gama de características que envolvem o comportamento suicida. Na qual todas as avaliações devem incluir; - doença mental, história pessoal e familiar de comportamento suicida - suicidabilidade, características de personalidade, fatores estressores crônicos e recentes, fatores psicossociais e demográficos e presença de outras doenças ", comenta a especialista.

 

A profissional ainda relata que o entendimento e consciência da temática por parte dos familiares do indivíduo é de fundamental importância para a saúde do paciente.

 

“Como ajudar em uma conversa? Em primeiro lugar ouça com atenção o que a pessoa está sentindo, não julgue, não tenha preconceito, demonstra que é alguém de confiança, não faça comparações, não ria ou faça piada, não hesite em questionar aberta e diretamente a ideia de suicido. Usa-se estratégias com foco no suporte aos familiares, avaliação do risco; diagnóstico psiquiátrico/ situação psicológica atual; contrato terapêutico, intervenção na crise; plano estratégico com Identificação de fatores de risco e fatores protéticos, atendimento semanal com suporte ambulatorial e escuta psicoterapêutica, retaguarda para internação em casos de alto risco”, finaliza.

 

Nesse contexto, a atenção primária inclui identificar, avaliar, manejar e encaminhar.  Já a atenção secundária são os centros de atenção psicossocial (CAPS), os hospitais de urgência e emergência em geral ou psiquiátricos, importante  para os indivíduos que estão em situação de crise.

 

O Oficial da Polícia Militar do Acre, Osmir Nogueira explica o papel das forças de segurança pública ao se deparar com situações em que a pessoa em risco ato de suicídio.

Agente de segurança pública comentou da complexidade do tema - Foto: Arquivo pessoal

 

“Existem dois procedimentos se a pessoa está tentando suicídio: primeiro é acionado o Corpo  de Boombeiro, a instituição em curso específico para essas situações que é o Atendimento à Tentaiva de Suicídio. Se essa tentativa é quando a pessoa está fazendo refém, a polícia é acionada, mas fica de longe. Quem faz o procedimento de negociação é o bombeiros. Geralmente a experiência diz que nesses casos o ideal é a polícia ficar de longe. Agora se o suicídio já aconteceu, a PM faz o isolamento do local para que seja feita a perícia da Polícia Civil.” explica o profissional.

 

 

 

 

 

 


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